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UM PAPO COM BAILES DE BH

Atualizado: 26 de abr. de 2021

Batemos um papo com o admin da principal página de bailes de favela da capital mineira no Twitter, o @BAILESDEBH. Falamos de vários assuntos, desde a ideia de criar a página até a repressão da polícia aos bailes, em um papo reto e curto trouxemos um pouco da visão dele sobre os rolês das periferias de BH. Confira abaixo a entrevista realizada por Henriquez.


Subaco das Cobras | Conjunto Califórnia - Zona Noroeste de BH

SUSPEITO: Como surgiu a ideia de criar a página?


BAILES DE BH: A ideia já existia um ano antes de ser criada. Eu gostava da ideia, mas não conseguia me ver colocando em prática, até que em um dia que tudo deu errado pra mim eu decidi me distrair através disso, planejei e em poucos minutos coloquei em prática e tô aí desde 2017 fazendo a boa do rolê pra galera!


SUSPEITO: O que faz um baile ser bom?


BAILES DE BH: Isso aí varia demais, acho que vai mais por gosto pessoal, se eu tô com quem eu agrado já gosto do rolê, mas há coisas que todo mundo gosta, né, um baile lotado, mas nem tanto, o som com qualidade, belas damas no ambiente, aquele copão na mão, isso aí já faz a onda (risos). E o mais importante, o baile não lombrar*!


[*pra quem não sabia igual o revisor aqui, lombrar é dar ruim, a PM chegar]


SUSPEITO: Dê umas dicas para curtir um baile para quem é inexperiente.


BAILES DE BH: Acho que a primeira é humildade, pisou no pé ali pede desculpa, pedir aquela licença pra passar no corredor, nenhum mistério, o básico da educação no dia a dia mesmo. Segunda dica é nunca filmar alguém armado. Uma terceira e importante é que se lombrar você cai pro canto e sai na moral, nada de correr ou desesperar. Quarta seria respeitar as minas, né, não ficar de liberdade se não recebeu abertura pra isso, até porque se não tu pode acabar arrumando treta. Quinta e importante é não mijar na porta dos moradores, nem ficar fazendo bagunça na favela na ida ou na volta, nada de zoar os ônibus da favela e nem morador.


SUSPEITO: O que rola nos bailes que não é postado por você?


BAILES DE BH: Um monte de coisa mano, que isso, coisas boas e coisas ruins (risos)! Muitas que eu prefiro nem dizer na real! (risos) Mas pra não ficar sem resposta, eu nunca filmo o momento que o baile dá ruim e os PM chega.


SUSPEITO: E como é a repressão da polícia contra os bailes de favela em BH?


BAILES DE BH: Pesada, muito pesada. No quesito reprimir baile a polícia daqui é exemplar infelizmente, há poucos lugares onde eles não brotam, se tem 20 bailes na noite é quase certo eles irem em pelo menos metade deles, principalmente nas favelas já famosas da cidade, mas somos brasileiros, né, os caras aqui nunca desistem de fazer o rolê! O maior problemas deles é que rola muita covardia, tá ligado? Se eles chegarem e tacarem uma bomba já acaba o baile e geral vai embora correndo, mas eles gostam de esculachar, tacam dezenas de bombas, fecham as principais entradas e agridem quem passar, é mó fita infelizmente!


SUSPEITO: Como você vê que influencia os rolês pela cidade através da página?


BAILES DE BH: Eu já testei isso várias vezes, o lugar que eu vou naquele dia é sempre o que dou mais prestígio de forma camuflada, aí vejo a maioria das pessoas lá, isso é divertido! Se eu tô num rolê e ele ainda não tá aquilo tudo, eu tiro uma foto e falo "Tá rolando em tal lugar", aí em poucos minutos você vê as pessoas chegando, acho isso muito doido, já fiz isso até pra encher o baile da minha quebrada, importante que uso essa influência com consciência! Eu vi que desde a criação da página muita gente se interessou mais pelo rolê e passou a colar, já me chamaram muitas vezes falando que foram pela primeira vez e gostaram, os bailes que estão na lista sempre são os melhores.


SUSPEITO: Vc sabe perceber todas as problemáticas presentes nos bailes?


BAILES DE BH: Com certeza, há várias coisas "erradas" ali. Igual eu disse que tem muita coisa errada que não posto e estão até relacionadas a isso, só que qualquer problema que esteja ali é estrutural, ali é a consequência do problema, não a causa, se não fosse a elitização dos espaços de entretenimento te garanto que estaríamos num ambiente muito mais saudável em alguns sentidos, mas nada supera a energia daquilo mano, eu paro, olho aquilo e penso "Isso é lindo, pena que é criminalizado", e todo mundo sabe porque é criminalizado, né? Mas aí o assunto ficaria muito longo...


SUSPEITO: Cite 5 bailes que você acha foda e que as pessoas fora de BH e Minas Gerais devem conhecer um dia.


BAILES DE BH: Tem algumas favelas que tem mais de um, mas vou falar o nome da favela em si, porque querendo ou não vale a visita. Subaco das Cobras, Serrão, Morro das Pedras, Morro da Vaca, Concórdia. Muita gente vai discordar dessa lista, mas não importo (risos).


SUSPEITO: E qual a sua visão sobre o funk de BH?


BAILES DE BH: Sem clubismo? O melhor do Brasil. Pra mim não tem comparação, sou extremamente fascinado com o funk daqui, estamos com alguns MC's no topo atualmente, temos os melhores djs produtores que lançam as melhores MTGs, pra mim o que falta é ser uma vitrine, os artistas precisam melhorar no marketing pros outros estados, porque aqui dentro são unanimidade. Você cola em um baile de SP e escuta uma montagem daqui rolando e as pessoas nem sabem que o DJ é daqui, pode ir em Vitória que te garanto que vai ver o mesmo, no sul, no centro oeste também. O funk tá salvando muitas vidas aqui pra todos que vivem disso, desde o cara que é assistente do MC até o produtor de eventos, o cara que vende bala na porta do rolê, a tia que vende bebida no baile, os moleques daqui são muito bons no que fazem!


SUSPEITO: Conta pra gente uma história de algum baile que foi marcante pra você.


BAILES DE BH: Essa é difícil, porque tem muitas (risos). Deixa eu ver ... Caralho mano, pensei um tempo aqui e realmente tem muitas, não sei nem só uma pra começar, já teve muro de casa caindo, já teve mega operação no meio do baile, já teve conhecidos meus perguntando qual rolê tava rolando sem saber que sou o ADM da página, já teve pedido de namoro no meio do rolê, já teve fuga de tiroteio, já teve o patrão da quebrada querendo me dar droga só por ter divulgado o baile, seloco, coisa demais (risos)! Muitos anos de rolês, muitos de bailes, é muita experiência, não dá pra falar tudo, nem sei qual dizer, sério mesmo, quem sabe um dia eu lanço um documentário pra galera saber de umas histórias da hora!


Desde já agradeço a entrevista com vocês da Suspeito! Achei muito foda a oportunidade, primeira vez que faço isso. Venham conhecer BH, aqui o bagulho é o louco, lazer total!


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