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REINALDO, O PRÍNCIPE DO PAGODE

Atualizado: 12 de abr. de 2021


Foto: Reprodução

Reinaldo conta que a honraria de Príncipe foi dada por um locutor da rádio Manchete, seu “amigo de cachaça” durante o Sambalanço, programa que “São Paulo parava pra ouvir”. Parava pra ouvir porque o pagode do fim dos anos 70/80, de Mauro Diniz, Fundo de Quintal, Beth Carvalho, entre outros, ainda não havia penetrado na indústria fonográfica. Sempre humilde, Reinaldo ficou receoso de acharem que a honraria de príncipe seria percebida como uma demonstração de presunção. Há quem questione? Bem, alguns acham que ele deveria ser o Rei do pagode.


Reinaldo foi responsável por exportar o pagode carioca para além de suas fronteiras naturais. Isto porque a carreira do cantor se desenhou de maneira atípica: ele veio para São Paulo no início da década de 80 após pedir demissão do Citibank – onde, segundo ele, era um dos únicos e primeiros negros a trabalhar na multinacional do capital financeiro – para fundar um pagode aos moldes do que se tinha no Rio. A intenção era viver disso e não gravar LP’s.


O sucesso de seus pagodes era tamanho que muitas músicas de Arlindo Cruz e Almir Guineto, por exemplo, eram testadas em seu pagode. Em entrevista com Claudinha Alexandre, no Youtube, ele revela que Insensato Destino já era muito cantada em seu pagode antes mesmo de alguém gravá-la, além de muitas outras. O papel de Reinaldo, portanto, se assemelha a de um embaixador. O intercâmbio entre São Paulo e Rio feito por Reinaldo, no entanto, não fora unilateral: ele apoiou diversos artistas paulistas, inclusive convidando alguns deles para a histórica trilogia “Pagode Pra Valer” como Negritude Jr, Art Popular, Katinguelê e Exaltasamba. Sua relação com a cidade, inclusive, rendeu uma música homenagem em 1992 onde ele canta “Desculpe poeta, respeito o senhor, mas não concordo o que você falou, que São Paulo é o túmulo do samba” e faz reverência às escolas de samba paulistas, em especial a de seu coração: a Camisa Verde e Branca. O poeta em questão seria Vinícius de Moraes, que ousou em fazer tal afirmação.


Reinaldo era inigualável em seu repertório e insuperável em sua voz. Muitas das músicas que ele interpretou ao longo da vida são minhas versões favoritas das mesmas. 'Meiguice Descarada' de ninguém mais ninguém menos que Almir Guineto é um exemplo notório (Você traz a promeeeessa!!) ou 'Agora Viu Que Me Perdeu e Chora', composição de Arlindo Cruz (Chora vagabundoo!!) que inclusive foi escrita durante o período de divórcio de Reinaldo. Cabe a menção a 'Soneto de Prazer' de Mario Sergio e Luizinho Toblow, cujo cavaquinho fora gravado espetacularmente por Mauro Diniz. De Swing & Simpatia a Luiz Carlos da Vila, o príncipe era um amplo conhecedor do samba e suas possibilidades, e interpretava canções muito diferentes entre si.


Foto: Reprodução

Em 1986, seu álbum 'Retrato Cantado de um Grande Amor' fez um grande sucesso. A faixa-título, segundo ele, seria a música de sua carreira. Na já citada entrevista com Claudinha Alexandre, ele diz:


Essa música marcou muito porque na época do estouro do pagode, no meu movimento, e vinha todo mundo com uns pagode... ‘eu vou sujar seu nome SPC’ os pagode pra frente e eu vim com uma música muito romântica que falava bem da mulher amada, muito grande pros moldes da época [...] a música tinha 5 minutos. Ninguém ia tocar essa música”. Trata-se de um dos mais bonitos sambas já compostos e da coragem de ir contra a maré, acreditando no próprio trabalho.


Como intérprete, compositor, “embaixador”, olheiro ou cantor, Reinaldo foi inesquecível para a música brasileira. Figura simpática que sempre acolhia os fãs, era um sujeito muito querido no meio da música e do futebol – era Flamenguista. O zagueiro Dedé chorou ao vivo ao conhecê-lo no Troféu Mesa Redonda: pediu para que ele cantasse Sonhos, em seguida. Infelizmente, porém, o Príncipe do Pagode não era um sujeito muito da mídia, não aparecia muito na televisão e nem nas rádios – só tocava “onde tinha um amigo”, segundo o mesmo. Se engana quem pense que ele precisou disso durante sua carreira: o jornalista Júlio Maria do Estado de São Paulo foi muito feliz quando disse que sua maior mídia eram as rodas de samba. Poucas no Brasil não cantam seus sucessos. Poucas não se inspiram em suas interpretações. Falecido em 18 de Novembro de 2019, continuará existindo onde quer que se junte um grupo de pessoas munidos de tantã, reco reco, banjo, cavaco e pandeiro em meio a pessoas alegres batendo palma, cantando e bebendo cerveja.

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