A OMS (Organização Mundial de Saúde) considera a depressão a doença mais incapacitante do mundo. Nos últimos anos foram feitos cada vez mais estudos relacionando o estigma da depressão tanto com as condições de vida nas periferias quanto com a cultura de negligência e preconceito em torno de saúde mental nessas mesmas comunidades. Com o isolamento social, o distanciamento emocional só aumentou. Não só por uma questão de proteção ou cuidado, mas a falta de emprego e aumento drástico dos valores também contribui para um isolamento ainda maior de quem já não tinha muito.
É como um ciclo vicioso em que a demanda por cuidado só aumenta enquanto o periférico só se vê cada vez menos incentivado a buscar ajuda e mais distante
de um sentimento de acolhimento.
Texto de: Lukas Stoles
Arte de: André Rebello
Na história do entretenimento, nós vimos a evolução heróis que foram de deuses de capa que não precisavam dormir ou respirar, até se tornarem heróis de bairro que acumulavam empregos para conseguir pagar as contas. Esse tipo de movimento de trazer pra perto da vida real, da pessoa comum, tende a trazer mais identificação com o que o público se vê enfrentando.
Mob Psycho 100 traz uma narrativa em que o herói não é simplesmente levado a destruir o antagonista, mas sim procurar entender seus sentimentos. Talvez a resposta para essa cultura que exclui e condena o mais vulnerável seja estimular uma nova geração através de heróis que humanizam, da mesma forma que a relação de Mob com os espíritos ou outros paranormais dos quais ele consegue se conectar. Um herói que ensine o jovem a entrar em contato consigo mesmo para encontrar respostas, ao invés de se esconder atrás de armaduras e hostilidade.
A relação de Reigen com Mob traz uma reflexão sobre esse “novo formato de herói”. Um adulto que, mesmo perdido e desmotivado, entende a importância de inspirar uma nova geração para ser melhor que a sua própria. São personagens com histórias comuns com dilemas e preocupações tão cotidianas que acabam inspirando o espectador pela simplicidade. Mob é capaz de reconstruir o mundo com a sua mente, mas alguém com capacidades tão ilimitadas parece se limitar a ter objetivos aparentemente simplistas como aguentar chegar até o fim da prova de corrida, aprender mais mais sobre senso comum, ser mais sociável ou se tornar mais atraente para ser notado pela garota que gosta.
Talvez a questão não seja simplesmente a corrida, os músculos ou a garota. Talvez a questão seja acreditar em um objetivo e se manter nele, não importando se para as outras pessoas esse objetivo parecer sem sentido ou até mesmo impossível, e sim provar pra si mesmo que é possível mudar pra melhor. Essa caminhada de autoconhecimento é uma porta que a gente abre para se conectar com o semelhante. E essa conexão é o que vale a pena salvar no mundo.
Pra não ficar perdido:
Shigeo Kageyama (Mob) é um estudante inseguro e sem amigos. Devido a sua pouca experiência em contato social e falta de senso comum as pessoas tendem a ignorá-lo. Mob não é bom nos esportes ou nos estudos, não considerado é bonito e não possui nenhum tipo de carisma ou habilidade social, o que é constantemente colocado em comparação com seu irmão mais novo (Ristu Kageyama), que ao contrário de Mob, possui as melhores notas, as melhores classificações nos esportes e é um dos mais populares da escola. Existe um ressentimento silencioso entre os irmãos devido a um trauma no passado em que Shigeo, em um surto, pode ter ferido Ritsu. Todo esse contexto contribui para o isolamento de Shigeo.
Arataka Reigen é um jovem adulto que não suportou viver uma “vida comum” trabalhando num escritório sendo apenas mais uma engrenagem numa máquina sem sentido. Desprezado pela família e amigos e tendo que improvisar pra garantir uma sobrevivência mediana, como muitos jovens periféricos, ele inicia uma carreira como “Consultor Médium” aplicando pequenos golpes e oferecendo serviços desde massoterapia, exorcismo e tratamento de imagem. Sua vida segue vazia até que encontra em um jovem perdido a oportunidade de realmente fazer o bem ao impactar positivamente em outra vida.
Sinópse do anime
Shigeo Kageyama (Mob) é um jovem estudante tímido e sem amigos que apesar de possuir poderes paranormais aparentemente ilimitados, nunca conseguiu se desenvolver socialmente ou conquistar qualquer tipo de admiração ou popularidade. Depois de uma experiência traumática, Mob passa a negar parte de sua própria natureza ao reprimir seus sentimentos como modo de proteger a si mesmo e as pessoas ao redor das consequências das explosões de suas emoções reprimidas. Ao ver seu irmão caçula (Ritsu Kageyama) ferido após um surto do qual não consegue se lembrar, Shigeo decide não depender mais de sua paranormalidade, direcionando toda sua energia para uma mudança de vida em busca por crescimento pessoal de forma que consiga encontrar formas de se sentir especial por qualquer outra qualidade além dos poderes paranormais.
Ao procurar ajuda, Mob finalmente se encontra com o médium charlatão Arataka Reigen, um golpista que vem a se tornar seu mestre ao se oferecer como base de apoio e ensiná-lo a usar os mesmos poderes que o atormentam para ajudar os outros. Reigen conquista a admiração do jovem Mob ao mostrar que as pessoas não devem ser tratadas com base em suas diferenças. Que todas as pessoas são especiais simplesmente por conseguirem se dedicar aos estudos, se empenham nos esportes ou que possuem carisma e habilidade social, qualquer pessoas que conseguem se destacar sem precisar de poderes pode ser especial, ao mesmo tempo que ninguém precisa ser. E que possuir ou não habilidades não define o caráter, cada um é o protagonista da própria história e a única coisa que realmente importa não é tentar ser mais ou menos especial e sim fazer o possível para ser alguém “gente fina”.
Lembrando sempre que, por mais importante que seja oferecer e buscar apoio e acolhimento com as pessoas próximas, isso não substitui atenção e cuidados profissionais. Amigos e familiares também possuem seus próprios dramas e dilemas particulares, busque sempre por ajuda e aconselhamento profissional.
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