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LIVROS E DOCUMENTÁRIOS PARA ENTENDER A QUESTÃO RACIAL

Atualizado: 26 de abr. de 2021

(Texto original extraído do Medium, aqui).


Os incidentes mais recentes de violência racial, que estão acontecendo juntos num curto espaço de tempo, fazem o debate ganhar atenção novamente nas mídias sociais. Os casos de João Pedro, no Rio de Janeiro, e de George Floyd, em Minneapolis, não são coincidência. Eles já estavam escritos desde que as instituições que fazem o mundo girar foram criadas.



O Estado e o seu sistema de justiça foram desenhados para a manutenção da pilhagem dos corpos negros e da supremacia branca nos espaços de poder. Se um dia quisermos suplantar essa lógica racista devemos todos vencer a disputa de narrativas daqueles que querem que as coisas permaneçam como estão. Nas ruas ou na internet, a vitória também se dará no campo das ideias.


Sendo assim, reúno nesse texto alguns livros e documentários que fizeram parte da minha formação e entendimento da questão racial no mundo. Dei preferência a títulos com publicação em português. Agradeço aos amigos Victor Kuhnen e Vinicius José que ajudaram com algumas indicações.


O Genocídio do Negro Brasileiro — Abdias do Nascimento
O Genocídio do Negro Brasileiro

O Genocídio do Negro Brasileiro — Abdias do Nascimento


Abdias do Nascimento foi um dos grandes nomes da luta pelos direitos do negro no Brasil. Criou o Teatro Experimental do Negro, o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros e foi um dos idealizadores do Movimento Negro Unificado. Nesse livro, Abdias desconstrói o mito fundador das maiores falácias que tanto atrasaram o debate no Brasil: a democracia racial.



Abdias mostra como as instituições brasileiras trabalharam de diversas formas para subjugar a população negra brasileira. Não só através da violência física, mas também pela repressão a cultura e religião afro-brasileira.


As Políticas Públicas e a desigualdade no Brasil 120 anos após a abolição — IPEA


Esse livro é um conjunto de estudos sobre a questão racial brasileira feito pelo IPEA, em 2009, mas que permanece atual e necessário para entender o que foi feito e, mais importante, o que não foi feito para a redução das profundas desigualdades raciais no Brasil. Você pode acessar o estudo nesse link.



O Quarto de Despejo — Carolina de Jesus


O livro foi feito a partir dos diários de Carolina de Jesus, uma mulher negra e moradora de uma favela em São Paulo. Os relatos se mostram importantíssimos, pois são orgânicos, vêm da raiz, sem qualquer tipo de véu intelectual e academicista. É um livro muito conhecido no exterior e foi traduzido pra diversas línguas.





Malcolm X — Uma Vida de Reinvenções — Manning Marble


Malcolm X é uma das personalidades mais importantes para a luta internacional contra o racismo. Sua própria biografia é um arquétipo da trajetória de um homem negro nos Estados Unidos da América. O racismo acompanhou sua trajetória desde criança, quando perdeu o pai em um muito provável ataque racista da Ku Klux Klan. Após o envolvimento com o crime e as drogas na vida adulta, vem o encontro com a mensagem do Islã, que o transformou em ativista. Malcolm X influenciou políticos, ativistas, grupos de rap nos EUA e Brasil, e até hoje é uma das maiores referências a quem se interessa pela luta contra o racismo.



Entre o Mundo e Eu — Ta Nehisi Coates


Uma carta poderosa de um jornalista americano para o seu filho. Nela, ele disserta sobre o que é ser um homem negro nos EUA e quais são as dificuldades que, infelizmente, seu filho terá de enfrentar por ter nascido num corpo negro. Coates fala sobre a pilhagem do corpo negro, de como o negro nasce sem o direito de propriedade sobre o próprio corpo, que a qualquer momento pode ser tirado de si pelas mãos do Estado racista e da polícia.

O livro é bem emocionante, pois mostra as preocupações de um pai para com o seu filho. Nos lembra de como é difícil criar crianças negras nesse mundo.



Mulheres, Raça e Classe — Angela Davis


Um clássico de uma das vozes mais importantes do movimento negro americano. Angela Davis participou ativamente dos protestos e ações na mesma época em que os Panteras Negra atuavam, e hoje é acadêmica em estudos sobre raça. Nesse livro, Angela nos apresenta a intersecção entre a teoria marxista de classes, o feminismo e a questão racial.



Clóvis Moura — Rebeliões na Senzala


Considero esse essencialmente importante nesse momento em que surgem comparações rasas com os protestos americanos para dizer que os negros brasileiros são passivos quanto ao racismo. O livro traça uma trajetória de diversas insurreições e rebeliões para desmistificar o mito do negro passivo e provando que fomos e somos sujeitos da nossa história.









Racismo Estrutural — Sílvio Almeida



Silvio Almeida é Doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito e CEO do Instituto Luiz Gama. Nesse livro, Silvio trata sobre o racismo estrutural em tempos em que a expressão está sendo banalizada. O livro nos mostra como o racismo está impregnado em nossas instituições, nossa cultura, na nossa política e economia, e como isso norteia a maioria das nossas relações sociais.






Atitudes Raciais de Pretos e Mulatos em São Paulo — Virginia Leone Bicudo



Tese de mestrado de Virginia Leone Bicudo, em que ela disserta sobre as relações sociais dos pretos e mulatos em São Paulo por meio do que ela chama de “atitude raciais”.







O Sol É Para Todos — Harper Lee


Um dos maiores clássicos da literatura mundial. O livro conta a história de um advogado que defende o caso de um homem negro que foi falsamente acusado de estuprar uma mulher branca nos anos 30. O advogado enfrenta a ira das pessoas da cidade que, de antemão, consideravam o homem negro culpado apenas pelo viés racista. O livro serve de complemento a uma discussão levantada no livro Mulheres, Raça e Classe, de Angela Davis: o mito do homem negro estuprador.





Bônus: Biblioteca Virtual Luiza Mahin


Aproveito pra indicar a Biblioteca Virtual Luiza Mahin, no Google Drive, que conta com diversos livros pra baixar separados em pastas com temas específicos sobre a questão racial. Acesse aqui.


Documentários


Eu não sou seu Negro — Raoul Peck (documentário)

O documentário do diretor haitiano Raoul Peck é baseado num texto do ensaísta e ativista americano James Baldwin, em que ele escreve sobre o legado de três grandes líderes para o movimento dos direitos civis: Malcolm X, Martin Luther King e Medgar Evans.



Um Crime Americano — Daniel Lindsay and T. J. Martin


Documentário fundamental em tempos em que protestos tomam conta dos EUA e outros países. Trata dos tumultos que aconteceram em Los Angeles, em 1992, em decorrência da morte de Latasha Harlins, morta devido a tensão existente entre a comunidade coreana e a negra, e ao caso de Rodney King que foi espancado pela polícia. No momento que escrevo (02/06/2020), está disponível na Netflix.



13ª Emenda — Ava Duvernay


Documentário produzido pela Netflix que discute o encarceramento em massa e o lobby pela privatização das prisões nos EUA. O documentário nos mostra a preocupante situação dos presidiários. que vivem em situações análogas a escravidão, trabalhando de modo forçado para as empresas que administram as prisões.



Black Panthers — Vanguarda da Revolução


O documentário conta a história do mais notório grupo de autodefesa negra, os Panteras Negras. O grupo de orientação marxista foi um marco e serviu de inspiração para diversos movimentos ao redor do mundo. O grupo que pregava que os negros deveriam se organizar enquanto comunidade para se defender da violência policial por todos os meios necessários, como dizia Malcolm X. Os Panteras chamaram atenção do FBI por defender o porte de armas como método de defesa e foram perseguidos pelo governo americano. Suas ações iam desde escolas autogeridas para crianças a programas de alimentação, enfatizando o trabalho de base para as comunidades vulneráveis americanas.



Menino 23 — Belisário Franca


O documentário mostra como o achado de suásticas nazistas em tijolos de uma fazenda, no interior no de São Paulo, levou a descoberta de que nessa mesma fazenda dezenas de jovens negros foram feitos de escravos mesmo numa época em que a escravidão não era mais legal.



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