Com danças, músicas e muito orgulho, a comunidade Kamba Kua, composta por afrodescendentes paraguaios, no final do ano passado, ofereceu uma oficina na Casa de Teatro de Assunção como forma de combate ao racismo e preconceito. Com ajuda da ONU, esse evento didático convocou dançarinos, historiadores, atores e escritores paraguaios que deixaram se contagiar pelo espirito da música e da cultura desta comunidade.
Segundo o censo oficial, no Paraguai existem cerca de 7600 pessoas que se identificam como afrodescendentes, no entanto a psicóloga comunitária Nancy Penayo, afirma que muitos sentem vergonha em identificar-se como esta raça, por isso estabelecer o número real é muito complexo. Penayo conta também que este desconforto vem da época escravista. Depois da abolição da escravatura, os africanos que conquistaram sua liberdade negavam-se a declarar a si mesmo como ex-escravos para poderem integrar-se melhor na sociedade. Cesar Chávez, estudante de filosofia pela Universidade Nacional de Assunção e membro da comunidade Kamba Kua, disse:
"Muitas pessoas não se identificam como afrodescendentes porque primeiramente, ignoram a sua história, não conhecem suas origens. É uma divida em matéria de educação escolar do Paraguai investigar e promover a diversidade cultural que existe no país. Para que esse sentido, os mais variados setores da sociedade paraguaia, - como os afroparaguaios -, possam conhecer sua história e através dela, assumir uma identidade afro."
Com o êxodo oriental, chegaram ao Paraguai o libertador José Gervasio Artigas e uma comunidade afro-americana. O proclamador da República Paraguaya, José Gaspar Rodriguez de Francia recebeu-os em 1820 e entregou as terras que habitam até hoje, conhecidas como Barrio Camba Cua, na região metropolitana de Assunção. Durante 1930 e 1940, época do governo de Higinio Morinigo, grande parte das terras pertencentes aos afrodescendentes foram repartidas para a iniciativa privada. Dos 100 hectares, restaram apenas 1.6 hectares, onde não contam mais com espaço nem terreno para trabalhar com agricultura ou pecuária familiar.
Quase duzentos anos da chegada ao Paraguai, as famílias afrodescendentes ainda mantêm suas tradições, como as comidas típicas trazidas pelos seus ancestrais, esse é o caso do Kichimá, alimento feito com base na mandioca e côco. Outro exemplo cultural, é a celebração da festa Kambá, uma festa religiosa de culto ao santo negro San Baltasar, a qual é celebrada anualmente no dia 06 de janeiro (o dia da visita dos Reis Magos ao menino Jesus no calendário católico).
Com o passar do tempo, o legado dos ancestrais africanos segue vivo na juventude afro-paraguaia, o sonho da construção de uma sociedade que integre a todos se mantém firme. César finaliza:
"A única forma que temos de seguir preservando nossa história é resistindo e exigindo políticas públicas que promovam a visibilidade dos setores afrodescendentes."
Comments