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UMA BREVE INTRODUÇÃO AO MÁGICO UNIVERSO DE MEN I TRUST


Texto de: João Redmann

Arte de: Fresh Gvbs

Revisão de: Tiele Kawarlevski


Dream pop é o futuro. Com vocais etéreos do shoegaze e o sintetizador do pop oitentista, esse é um dos subgêneros mais envolventes e promissores da última década.


O gênero é relativamente recente; surgiu em meados de 1980, na Escócia e na Inglaterra e depois se expandiu para os Estados Unidos e outros países. Neste texto, quero falar sobre uma das minhas bandas favoritas que, apesar de relativamente desconhecida — o que é ser desconhecido? —, acredito que ainda será objeto de estudo dos amantes da música como uma das maiores bandas do século XXI. Senhoras e senhores: Men I Trust.


O começo de tudo...


A maneira como Men I Trust se encontrou no cenário musical como banda indie é incomum. No começo, a banda não contava com Emmanuelle Proulx, a atual vocalista. Hoje, é muito estranho imaginar Men I Trust sem Emma Proulx, mas esse era o cenário em 2014.


Na época, a banda era composta apenas pelo produtor Dragos Chiriac e o baixista Jessy Caron, que já eram amigos desde o ensino médio e decidiram se reunir, após concluírem a faculdade de música que fizeram juntos, para formar uma dupla chamada Men I Trust.


Seus sons eram muito inspirados na estética da música eletrônica underground dos anos 2000. Se você pegar, por exemplo, a música 'Endless Strive' de 2014 e compará-la com produções mais recentes, conseguirá perceber quão diferentes são as duas abordagens.


A bateria eletrônica, ritmada ao lado de sintetizadores bem presentes, já mostrava o que a dupla queria transmitir com sua arte. Ali estava o embrião do que viria a se tornar Men I Trust.


Composições relaxantes e dançantes, ritmos naturalmente sintéticos e vocais dos mais diversos, fazendo com que cada música tivesse uma cara muito diferente da outra.


Apesar da versatilidade ser um bom atributo, nesse caso, a formação do trio com a chegada de Emma Proulx trouxe a unidade estética que faltava para a banda.


Chegada da vocalista Emma Proulx


Em 2015, enquanto trabalhavam no que seria o projeto seguinte, eles se depararam com um vídeo no Facebook de quem viria a se tornar sua vocalista, Emmanuelle Proulx. Ficaram tão impressionados com sua voz que a convidaram para seu segundo álbum, 'Headroom'.


Uma das minhas faixas favoritas desse álbum é 'Out In Myself', na qual Emma apresenta uma das melhores composições de sua carreira. Sou suspeito pra falar isso, eu amo letras abstratas. Por que falar "I'm in love" se posso falar "In expansion and contraction"? Dançante e enérgica, outra faixa que merece destaque é 'Curious Fish' e seus violinos de fundo. Apaixonante.


O álbum como um todo é fantástico. A primeira metade é recheada de participações, cada um entregando a melhor versão de si nos beats que misturam house music e sintetizadores que lembram muito 'Random Access Memories', do Daft Punk.


Apesar de eu amar esse álbum de paixão, a banda afirmou em entrevista que o som de 'Headroom' era muito "robótico". Na opinião deles, isso desumanizou muitos aspectos da banda, pois eles queriam produzir músicas mais orgânicas — o que de fato aconteceu quando começaram a soltar singles atrás de singles.


'Humming Man': ansiedade e paranoia


Na época eles não revelaram muitas informações, mas é possível presumir que, em algum momento entre junho de 2015 e março de 2016, Emma foi convidada a se juntar à banda como vocalista oficial da Men I Trust. Em março de 2016, eles lançaram 'Humming Man', o primeiro single da banda Men I Trust após a chegada de Emma.


O beat começa com uma bateria loopada, enquanto Emma fala pela perspectiva de um velho que sofre de ansiedade e paranoia. Essa música é simplesmente linda. Os vocais são cheios de reverb e efeitos que fazem transcender.


"Amid the gate, he stares at my door. How long did I see him stay?"

"No meio do portão, ele está parado na porta. Quanto tempo vejo ele ali?"


'Lauren': novos fãs surgindo


O single seguinte foi muito diferente de 'Humming Man'. 'Lauren' depende mais dos instrumentos e menos dos efeitos de voz. Embora ainda tenha um sintetizador muito presente, é o baixo que rouba toda a atenção.


O baixo aqui é a cola que une todos os elementos da música. A sonoridade dessa música é muito diferente de tudo o que era feito no Dream pop até então. Impossível não querer dançar ao som de 'Lauren'.


Vale ressaltar que essa música foi responsável pela atração de novos fãs, à medida que se espalhou por sites, como Bandcamp e o subreddit, IndieHeads. Aqui a banda começava a caminhar para a popularidade que tem hoje.


'Tailwhip': organicamente eletrônico


Em 2017, depois de mais singles, vemos o lançamento de 'Tailwhip', que, na época, conseguiu tomar o posto de 'Lauren' como a música mais popular da banda.


Enérgica e estilosa, 'Tailwhip' tem uma quebra no ritmo do piano durante a música que evidencia a maestria que a banda tem ao mesclar suas origens da música eletrônica com uma produção mais orgânica e focada no vocal — uma linha estética que eles seguem até hoje.


'I Hope To Be Around': Emma chora em Nova York


O single seguinte foi intitulado 'I Hope To Be Around' e gerou um momento histórico pra banda: o dia em que Emma chorou ao ver uma multidão cantando sua música.


O fato de eles terem fãs dedicados em Nova York, a ponto de cantarem suas composições de cor, proporcionou um momento lindo. Eles ainda não tinham noção do tamanho deles na cena indie.



'Seven': sensualidade implícita


Em 2018 foi lançado 'Seven' e era diferente de tudo que eu já tinha ouvido até então. Alguns elementos já conhecidos da banda estão ali, principalmente a cadência da guitarra, que dá um ritmo muito único. Porém, o que realmente se destaca aqui, mais uma vez, é a composição de Emma.


Ela narra a história de um homem que teve relações sexuais com duas mulheres ao mesmo tempo. De resto, você que faça suas interpretações, pois a música também não dá muitos detalhes. O paradoxo é esse, apesar de não dar muitos detalhes, é muito óbvio que existe uma sensualidade implícita ali.


'Oncle Jazz': finalmente um disco!


Em 2019, eles lançaram 'Oncle Jazz', o terceiro e último álbum da banda até o momento. Na minha visão, aqui é o ponto mais alto deles.


"Dedicamos nosso tempo para elaborá-lo com amor e estamos muito orgulhosos de como surgiu. Este álbum foi mixado silenciosamente para soar mais quente e natural."

Emma Proulx


Me peguei pensando muito sobre o que torna Men I Trust tão único. Cheguei à conclusão de que o segredo do Men I Trust está na suavidade estética e sonora, ao mesmo tempo que nunca deixa de ser Pop. Talvez seja mais "dream" do que "pop", mas ainda é pop.


Kurt Cobain copiou os Beatles, mas adicionou sua marca ali. Men I Trust copia o puro suco do pop, mas adiciona sua própria identidade. Melodias suaves, ritmos cativantes, sintetizadores muito presentes e riffs de guitarra extremamente gostosos de ouvir tornam Men I Trust uma banda histórica.


'Oncle Jazz' deixa isso evidente. Esse disco diz muito sobre a época que vivemos. Movimentos como o Chillwave e Lo-fi se mantêm relevantes já faz alguns anos, e 'Oncle Jazz' passa muito disso em suas faixas. Gêneros que antes não existiam, hoje já pautam tendências na música independente.


Curiosidade: o beat de 'Lado B', parceria entre os rappers Nill e Victor Xamã, tem como sample a música 'Show Me How' que se encontra no disco 'Oncle Jazz'. Confira a música completa abaixo:



Men I Trust: Don L do Dream pop


Ok, esse intertítulo foi um tanto quanto sensacionalista, mas em algum nível eu de fato acredito nisso.


Será que é tão absurdo assim pensar que Men I Trust tem um quê de Don L? Não querendo bancar o futurólogo, mas acredito que eles têm potencial de sobra para se tornar a banda favorita da futura banda favorita de muita gente; principalmente no Dream pop.


Enfim, só o futuro dirá. Por agora, só me resta agradecer.

Obrigado por tudo, Men I Trust. <3

 

Deseja conhecer as músicas da banda Men I Trust? Confira abaixo a playlist do Spotify que nós fizemos com todas as músicas citadas neste artigo. Até a próxima!


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