Texto publicado originalmente em: “Além das Cordas”
Na década de 1940, ainda criança, o atualmente vereador de São Paulo, ex-senador e ativista político, Eduardo Matarazzo Suplicy daria seus primeiros passos no boxe, a base começaria em Paiol Grande, quando tinha 8 anos e passava as férias de verão no acampamento. Praticava todo tipo de esporte, mas decidiu experimentar da “Nobre Arte” como um meio de melhorar a defesa pessoal e se apaixonou, dali em diante, por mais quatro anos seguidos em suas férias de verão, treinaria boxe no acampamento.
Na época, Higino Zumbano, tio de Eder Jofre, aquele que viria a se tornar o maior pugilista brasileiro de todos os tempos, era o treinador de Suplicy.
Na adolescência, teria contato com o ex-campeão amador Lúcio Inácio da Cruz através de seu cunhado e desde então, com 15 anos, passou a ser treinado por Lúcio, com quem também estabeleceu forte amizade.
Suplicy começava a aprimorar a parte técnica e física. Transformou o porão de sua casa em academia e ali pulava cordas, fazia ginástica, treinava nos sacos de areia, fazia sombra e corria no parque. O entusiasmo do treinador era tanto, que Suplicy rodava por academias da cidade junto de Lúcio, fazendo “sparrings” (luta num sentido de treino, exibição ou mesmo puro entretenimento) com pugilistas de diversas regiões da cidade.
Em 1962, a “Gazeta Esportiva” realizava um campeonato amador intitulado “Forja de Campeões” no ginásio Wilson Russo. Jogou contra a torcida que em boa parte estava vibrando pelo êxito de seu adversário, Jorge J. Santos, negro e sem o mesmo prestígio social e econômico que o de Suplicy, em sua coletânea de textos autorais — “Um Notável Aprendizado”, ele conta que ouvia dos aficionados na platéia “Acaba logo com esse filhinho de mamãe” ali o futuro senador começava a entender a tal da luta de classes. Foi derrubado ainda no primeiro round, quando ambos davam tudo de si, mas se recompôs e garantiu a vitória contra Jorge no segundo, por nocaute e a torcida se rendia ao feito do mais novo triunfante.
Destaque para o trecho do jornal: “Granfinos e operários misturam-se nas emoções dos grandes combates realizados no ginásio do Wilson Russo”.
Sua segunda luta acontecera no ginásio Tênis Clube, maior que o Wilson Russo, com direito a transmissão de TV ao vivo, contra o indígena do Amazonas, Getúlio Veloso. Nas proximidades do evento, adoeceu com bolhas pelo corpo e febre devido tamanha responsabilidade, a tensão foi de encontro ao seu corpo, mas ainda sim, subiu no ringue e após uma luta duríssima e equilibrada, sem quedas nos três assaltos, os jurados lhe asseguraram a vitória por pontos, 2 x 1. Mais tarde foi chamado pela Federação Paulista de Pugilismo e notificado de que houve erro na papeleta utilizada pelos jurados e que ele teria sido derrotado. Propôs nova luta que não lhe foi concedida. Eduardo Suplicy não seguiu no boxe, decidiu então se dedicar intensamente a outras lutas pela vida.
Em 2015, aos 74 anos de idade, enquanto ainda era Secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, Eduardo Suplicy viralizou com um vídeo onde “gingava” boxe com um morador de rua e fez sucesso nas redes sociais. O vídeo mostra Suplicy sem camisa e de calça branca ensaiando golpes com um rapaz identificado como Olodum.
É importante destacar que o mesmo provém de uma abastada família de aristocratas e o contato e a experiência com o esporte, teria sido importante para moldar o seu caráter político. Em seus textos autorais, conta que a “Nobre Arte” foi um aprendizado notável para se defender diante das mais difíceis situações da vida e em postagem em sua página oficial no Facebook, Suplicy afirma que foi através das amizades feitas no boxe que ele passou a compreender melhor as desigualdades sociais do país. Quando jovem, os pugilistas de sua época viam o boxe como uma oportunidade para superarem a pobreza e a discriminação, algo que ainda acontece nos dias de hoje, porém muito mais atrelado ao futebol.
Commentaires