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DESAJUSTADOS DE MCNAMARA: O USO DE TROPAS INAPTAS NO VIETNÃ

“Nós queimamos até a morte milhares de civis japoneses em Tóquio. LeMay reconheceu que o que estávamos fazendo seria imoral se nosso lado tivesse perdido. Mas o que faz isso imoral se perdemos e o que se faz não imoral se ganhamos?” Robert McNamara.


Texto e arte de: André Rebello


E quando mesmo tendo perdido a guerra, as “imoralidades” e os crimes em solo estrangeiro são varridos para debaixo do tapete?


A guerra do Vietnã esquentava cada vez mais, o ano era 1966, o presidente Lyndon Johnson e seu secretário de defesa Robert McNamara recebiam um problema: Como poderiam recrutar mais homens? Não existiam mais homens aptos para o exército para serem recrutados, a maioria dos jovens estava na faculdade, se os forçassem a ir para guerra Lyndon perderia os votos da classe média estadunidense.

A solução de McNamara? Abaixar absurdamente os padrões necessários para se ingressar no exército, agora as forças estadunidenses contariam no Vietnã com pessoas neurodivergentes, viciados e criminosos. O programa deveria contar com 100,000 alistados abaixo do padrão anterior, no fim, o programa teria alistado mais de 350,000 pessoas.


A desculpa seria de que isso os ajudaria a se reintegrar na sociedade após o período de serviço, mas se nem pessoas consideradas aptas se adaptariam após servir no Vietnã, como pessoas assim poderiam se adaptar?



Hamilton Gregory, autor do livro "McNamara’s Folly", entrou para o exército após sair da faculdade, nas forças armadas foi perguntado quem daquela multidão de homens seria já seria formado, Gregory ergueu sua mão e o sargento o levou até um jovem extremamente magro, dando ordens para que cuidasse do jovem e o acompanhasse em todas as atividades, seu nome era Johnny Gupton. O sargento não fez questão de baixar o tom em momento algum na presença de Gupton, mesmo o tratando como incapaz. Completou dizendo “Cuida pra ele não se perder, ele é um dos retardados do McNamara”.


Gupton não sabia ler, escrever, amarrar os sapatos corretamente, em que estado vivia, muito menos se os EUA estavam em guerra com alguém e quais os motivos disso, não que o americano médio normalmente tenha conhecimento dos reais motivos das guerras que seu país trava em países de terceiro mundo, mas Gupton excepcionalmente não tinha sequer a capacidade de aprender tudo isso que foi mencionado.


Antes de chegarem a Fort Benning, Georgia, para o treinamento, cada recruta deve completar uma carta. “Cara _____, escrevo para informar que _____ chegou em segurança na Estação de Recepção em Fort Benning, Georgia, aonde irá ficar até terminar seu treinamento”. Gupton apenas pediu para que Gregory completasse escrevendo “vovó”, não sabia o nome da sua própria avó muito menos o endereço para ser colocado no envelope.


Nas instruções de tiro muitos dos recrutas tinham medo de disparar uma arma, mas após algumas demonstrações de tiro pelos oficiais muitos perdiam esse medo. Johnny nunca perdeu, morria de medo do seu rifle e os oficiais tinham mais medo ainda de que ele disparasse sem querer em algum colega. Um dos sargentos havia deixado claro que nunca mais Gupton deveria empunhar um rifle enquanto estivesse lá.



Outra história, Michael Monk (nome fictício), da trigésima primeira divisão de infantaria, em uma noite enlouqueceu em Firebase Smoke, próximo de Saigon em 1968. Monk começou a atirar aleatoriamente em seus colegas, matando 3 deles. Monk antes mesmo de ir para o exército já estava sob cuidados psiquiátricos, isso não o impediu de ser alistado para o Vietnã.


Os 100,000 de McNamara tinham a taxa de mortalidade 3 vezes maior do que uma infantaria regularmente alistada, a estimativa é de que 20,270 desses foram feridos em campo e permanentemente incapacitados para o resto de suas vidas.


O mesmo erro foi “repetido” na invasão do Iraque, Afeganistão e na verdade por todo o Golfo Pérsico, principalmente no alistamento de pessoas com ficha criminal.


Podemos ver diversos exemplos de como isso reverberou até mesmo na cultura pop, temos Forest Gump, Full Metal Jacket e até mesmo Jarhead chega a retratar o último exemplo dado, onde se passa na guerra do golfo.


Apesar dos motivos oficiais, 40% dessas pessoas recrutadas eram negras, e 60% dessas pessoas vinham das áreas mais pobres dos EUA, maioria sulista. A população afro-americana em 1960 era de 11%, mas mesmo assim eram quase metade do “new men standards” de McNamara.



O experimento provou seu fracasso mas mesmo assim, suas técnicas continuam sendo aplicadas até hoje em invasões pelo Oriente Médio. Como algo se torna imoral ou não? Bem, aparentemente o julgamento disso fica para uma minoria de pessoas como McNamara, que decidem o futuro de pessoas que não deveriam participar disso.


Referências:


McNamara's Folly: The Use of Low-IQ Troops in the Vietnam War - Hamilton Gregory

PROJECT 100,000 (1966-1971) - BLACKPAST – Cory Turner

Vietnã, uma lição (involuntária) de Robert McNamara – Reginaldo Corrêa de Moraes

Project 100,000: The Mentally Disabled Men who Fought in Vietnam – Buchanan Waller

Project 100,000: The Great Society's Answer to Military Manpower Needs in Vietnam – Lisa Hsiao

Vietnam era and Vietnam combat veterans among the homeless - R Rosenheck, P Gallup, C A Leda

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