"Seus compositores aqueles
Seus ritmistas vão fundo
Tocando bem fundo em qualquer coração
É uma festa brilhante
Um lindo brilhante mais fácil de achar
É perto de tudo, é ali no subúrbio
Um doce refúgio pra quem quer cantar
É o Cacique!
Sim... É o Cacique de Ramos..."
O trecho acima é da canção "Doce Refúgio", clássica composição de Luiz Carlos da Vila e imortalizada na voz do Fundo de Quintal, presente em qualquer show do grupo. É uma singela homenagem ao lugar "onde tudo começou". Pois além do histórico bloco carnavalesco, o Cacique de Ramos foi o berço de muitos dos maiores artistas da história da música brasileira entre o fim dos anos 70 e a década de 80. Beth Carvalho, Almir Guineto, Jovelina Pérola Negra, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Luiz Carlos da Vila, Jorge Aragão, Sombrinha, entre outros, todos estavam ligados ao Cacique de Ramos. O pagode carioca simplesmente revolucionou a forma de se fazer samba no Brasil e, consequentemente, a música brasileira. Beth Carvalho, em entrevista concedida a Eduardo Goldenberg, o definiu como "A Sierra Maestra do Pagode".
Há certo descaso por parte da academia e da crítica musical em relação ao pagode inaugurado pelas figuras do Cacique de Ramos. Em diversas listas e estudos sobre música brasileira, são ocultados os nomes destes que desempenharam um papel central na música brasileira em sua época.
Daí o valor do projeto "Memória Caciqueana" que se propõe não apenas a isso, mas muito mais. Com início em 2019, pelo Centro de Memória Domingos Félix do Nascimento do G.R. Cacique de Ramos - homenagem ao pai de Bira Presidente e Ubirany - o acervo organizado por Walter Pereira registra em vídeo a história da agremiação a partir das principais pessoas que fizeram parte da construção do bloco, cobrindo desde a fundação, as rivalidades com o Bafo de Onça, os artistas e boleiros que lá frequentavam até a vida individual de quem é entrevistado e momentos históricos da entidade.
A primeira etapa do projeto conta com as participações de Bira Presidente, fundador e presidente; Adilsinho, ex-diretor; Miguel do Repinique, percussionista; Noca da Portela, compositor; Chopp, diretor de harmonia e Milton Mendes, produtor musical. Todas as entrevistas são disponibilizadas no youtube periodicamente. Até agora foram lançadas 4 entrevistas, com minutagem dos blocos e resumo biográfico do entrevistado na descrição. O condutor das entrevistas é Walter Pereira, que também coordena o projeto.
Além dos vídeos, há a seção #caciqueacadêmico no Instagram, onde se divulgam trabalhos da academia e do jornalismo que abordam o Cacique de Ramos, como, por exemplo, o livro "Cacique de Ramos - Uma História que Deu Samba", tese de doutorado de Carlos Alberto Messeder Pereira. Também no Instagram do projeto, se publicam fotos históricas de desfiles e membros, bem como documentos, como este, em que a clássica "Vou Festejar", imortalizada na voz de Beth Carvalho, foi enviada à censura da ditadura para ser liberada.
Em tempos em que alguns ratos saíram do bueiro para "cancelar" o Cacique de Ramos - desinformação ou má intenção? -, creio que o projeto é fundamental para registrar a história deste que foi tombado como Patrimônio Cultural carioca, além de informar e emocionar as pessoas. Vida longa ao Cacique de Ramos!
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Texto brabo demais, Vitão! 🔥